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DW concede prêmio Liberdade de Expressão a Yulia Navalnaya

Aleksei Strelnikov
3 de maio de 2024

Viúva do oposicionista russo Alexei Navalny está dando continuidade ao trabalho do marido, morto na prisão. A DW a homenageia, juntamente com sua Fundação Anticorrupção.

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Rosto de Yulia Navalnaya iluminado em meio a pessoas
Yulia Navalnaya diante da embaixada da Rússia em Berlim, na fila de votação para eleição presidencial russaFoto: Carsten Koall/dpa/picture alliance

Três dias após a morte do oposicionista russo Alexei Navalny, aos 47 anos, em fevereiro de 2024, sua viúva Yulia Navalnaya declarou publicamente que o sucederia e assumiria a administração da Fundação Anticorrupção (FBK). Seu marido fundou a organização sem fins lucrativos em 2011. O objetivo: descobrir e divulgar casos de suborno e abuso de poder entre a elite russa e, assim, combater a corrupção. Muitos consideram a morte de Navalny em um campo de prisioneiros na Sibéria como consequência dos anos de represálias com as quais as autoridades russas o perseguiram por suas atividades políticas.

A Deutsche Welle está agora homenageando Yulia Navalnaya e a Fundação Anticorrupção com o décimo Prêmio de Liberdade de Expressão. O diretor geral da DW, Peter Limbourg, justificou a escolha com a "coragem inabalável" com que Navalnaya e seus companheiros de campanha lutam por uma Rússia livre. "Yulia Navalnaya apoiou o trabalho político de seu marido, Alexei Navalny, na luta pela liberdade de imprensa e de expressão na Rússia desde o início – apesar de todos os riscos, ameaças constantes e restrições pessoais", afirmou Limbourg.

Não queria atuar como política

Ao suceder seu marido, Yulia Navalnaya estaria anunciando o lançamento de sua própria carreira política, de acordo com analistas. Alguns a veem como o novo rosto da oposição russa. No entanto, ela nunca quis se tornar uma política de fato.

Na década de 2000, o casal se filiou ao partido liberal Yabloko. À medida que seu marido se tornava um político cada vez mais importante, Navalnaya trabalhava em planos de negócios com ele. "Eu era uma ajudante invisível", disse ela à revista Afisha em 2014, que trazia Navalnaya na capa, sob o título O sexo forte.

Ela apareceu primeira vez em destaque na imprensa quando ela, junto com outros ativistas da oposição, procurou por seu marido em centros de detenção em Moscou após ele ter sido levado pela polícia durante uma manifestação a favor de eleições justas.

"Dia mais dramático"

No entanto, Yulia Navalnaya disse certa vez que o "dia mais dramático" para ela foi em 2013, quando seu marido foi condenado a cinco anos de prisão por suposto desvio de dinheiro. Fotos do tribunal mostraram Yulia Navalnaya cabisbaixa. Ela estava preparada para o pior. Mas depois do clamor do público, o tribunal suspendeu a sentença de prisão.

Mais tarde, Navalnaya disse que havia se conformado com os riscos do trabalho de seu marido. "As pessoas acreditam nele, seus olhos se iluminam e elas saem às ruas, mesmo sendo intimidadas e ameaçadas de prisão. Isso é maravilhoso", enfatizou à revista Afisha.

Julia Navalnaya com cores e estrelas da bandeira da UE ao fundo
Julia Navalnaya em fevereiro passado, durante discurso no Parlamento EuropeuFoto: Frederick Florin/AFP/Getty Images

Ela entrou na arena política pela primeira vez em 2013, durante a campanha eleitoral de seu marido para prefeito de Moscou. Navalny queria garantir a transparência na política – tanto em relação a sua renda, suas propriedades, como também sua família. Os Navalnys representavam, portanto, um contraste com os políticos de estilo antigo. Com pouco menos de 27% dos votos, Navalny ficou em segundo lugar, atrás do vencedor da eleição, Sergei Sobyanin, e Yulia Navalnaya tornou-se a "primeira-dama" do novo líder da oposição.

Um outro desafio importante que ela enfrentou foi em 2020 em Omsk, quando seu marido foi vítima de uma tentativa de envenenamento. O médico Aleksandr Polupan disse à DW que Navalnaya provou ser uma mulher calma, forte e autoconfiante naquela situação estressante. Polupan acredita que a perseverança dela foi fundamental para que Navalny fosse transportado para a Alemanha e para que o caso recebesse grande atenção pública.

Na época, Navalnaya apelou ao presidente russo, Vladimir Putin, para que ele permitisse que seu marido fosse tratado na Alemanha. Posteriormente, Putin disse que havia pedido pessoalmente à promotoria pública que permitisse que Navalny deixasse o país imediatamente após a esposa do oposicionista ter lhe pedido isso.

"Símbolo de resistência moral"

O cientista político Dmitry Oreshkin acredita que Yulia Navalnaya pode se tornar um importante símbolo de resistência contra a tirania "masculina" na Rússia. Ele diz que enquanto a maioria da população masculina acredita firmemente em um ataque da Otan à Rússia, as mulheres russas têm que resolver problemas concretos.

"Os maridos delas foram mortos, seus irmãos tiveram que se alistar no Exército e seus filhos foram enviados para morrer na Ucrânia", escreve Oreshkin. "Os pensamentos das mulheres não seguem nenhuma ideologia, elas querem seus familiares de volta. A imagem de Navalnaya pode ser unificadora para a oposição no país e no exterior."

Andrey Kolesnikov, membro do instituto de pesquisa Fundo Carnegie para a Paz Internacional, em Washington, acredita que Yulia Navalnaya pode se tornar um "símbolo moral de resistência". "Se algum dia chegar a ser permitida uma candidatura democrática à presidência, Yulia será definitivamente, do ponto de vista de milhões de pessoas, a melhor candidata."

Casal Navalny sorridentes, com casal de filhos
Casal Navalny com os filhosFoto: Andrew Lubimov/AP/dpa/picture alliance

"Ao matar Alexei, Putin matou metade de mim, metade do meu coração e metade da minha alma", disse Yulia Navalnaya. A metade restante agora está cheia de "raiva, fúria e ódio", o que a levará a realizar o sonho de seu marido, que é construir uma Rússia "cheia de dignidade, justiça e amor".

O Prêmio Liberdade de Expressão será entregue pessoalmente a Yulia Navalnaya em Berlim no próximo 5 de junho, em cerimônia que contará com discurso do ministro alemão das Finanças, Christian Lindner.